Pois bem pescadores, voltei para a Argentina no verão. Mais precisamente no mês de março, e a pescaria foi espetacular.
O destino escolhido foi Ita Ibaté, na província de Corrientes, e a hospedagem na pousada Gêmeos. Fiquei muitíssimo satisfeita com a minha escolha. A pousada traz, dentre as inúmeras características positivas, como ótima recepção, comida deliciosa, visual lindo, acomodações confortáveis e serviço de qualidade, uma em especial: nos faz sentirmo-nos em casa !!! Foram dias muito felizes por lá.
Agora vamos aos trabalhos. Como na grande maioria das vezes, me desloquei até o destino de carro. E dessa vez foi mais que especial porque minhas companhias foram meus avós maternos. Fiéis escudeiros que embarcaram nessa aventura comigo.
No primeiro dia de viagem, saímos de Ourinhos e fomos até Foz do Iguaçu. Dormimos por lá para seguirmos até o destino final no dia seguinte (trafegar a noite, com veículo estrangeiro na Argentina, não é muito indicado; em razão da polícia caminera ser um tanto quanto exigente com os motoristas estrangeiros- ao final da matéria vou deixar para vocês um breve roteiro e os itens de segurança obrigatórios para transitar por lá).
Chegamos a Ita Ibaté na tarde do dia seguinte, fomos recepcionados com cerveja argentina bem gelada e as clássicas e deliciosas empanadas. Não demorou muito e começou o trâmite regular de uma chegada a um novo local de pesca: especular os demais hóspedes que estão voltando do rio, como foram os saldos de peixe hahaha
As notícias foram positivas e eu me animei ainda mais. Logo conheci quem seria o meu guia por aqueles dias: Telmo. Nós já deixamos toda a tralha preparada para o dia seguinte. Montamos dois conjuntos: para dourados e surubis- vara trevala e carretilha calcutta 700, ambos Shimano e para piaparas- vara predator e carretilha challenge, ambos Rapala.
O dia amanheceu lindo, logo cedo um céu já tilintando de tão azul e o Sol dando um belo bom dia. O rio Paraná muito verde naqueles dias quentes ... esperando por nós !!!
Navegamos aproximadamente 1 hora rio abaixo, o Telmo disse que aquele ponto estava rendendo dourados grandes na pescaria de rodada, com morenitas (tuviras). E foi essa a pescaria que fizemos durante toda a manhã. Eu peguei um dourado bom, mas não muito grande e meu avô, um outro um pouco maior. Esperávamos mais peixes, mas ficamos muito contentes com a estréia.
Retornamos para o almoço na pousada, delicioso churrasco típico argentino e a tarde fomos pescar rio acima, aproximadamente uns 15 minutos dali.
Insistimos na pescaria de rodada com tuviras, porque o guia nos instruiu que, diante das condições dos níveis das águas naqueles dias, seria nossa melhor opção.
O nível do rio se regula conforme a abertura ou fechamento das comportas da barragem. Infelizmente nos dias em que estive lá, o transporte de arroz e poroto (feijão) a bordo das barcaças, estava intenso. Logo o nível do rio se altera muitas vezes em um curto espaço de tempo, e isso mexe com os peixes de forma negativa.
Maaas, se existe um ser persistente e que não perde a esperança é o pescador !! haha. Além do mais, nosso saldo estava positivo e era só o primeiro dia de pesca, então tudo podia acontecer.
Rodamos a tarde toda e sem êxito. Bem no finalzinho do dia, levei uma puxada violenta e fisguei rápido. Trabalhei o peixe alguns minutos, mas infelizmente ele escapou. Meu anzol voltou completamente sem isca. Pelo tipo da batida eu acredito que foi um dourado muito grande... me deu um baile, encheu a barriga e foi-se hahaha
Depois de uma boa noite de sono, merecida aliás, porque o verão argentino é beeeem quente e o Sol cansa bastante, acordei muito disposta. Eu estava com fé naquela pescaria, sentindo que iam sair muitos peixes lindos.
Na manhã do segundo dia resolvemos novamente descer o rio, tínhamos tido ação e estávamos todos confiantes que íamos pegar mais peixes por lá. Rodamos algumas vezes, até que veio a primeira batida eee... advinham? Um belo armau, pois é meu povo. Isso é pescaria !!! Sempre uma surpresa, na maioria das vezes são boas maaasss não todas.
Briguei com ele e a briga foi boa, ele não era dos maiores, mas bem gordo.
Isca na água novamente e logo em seguida, um show de batida na vara do meu avô. Daquelas que a fricção já sai cantando. Ele fisgou e um douradaaasso pulou lá longe, maaas escapou logo depois do pulo.
Seguimos persistentes, mais algumas rodadas ... já era quase hora do almoço até que chegou minha vez de novo !! Fricção correu, fisgada certeira e mais um dourado lindo. Coloração incrível, peixe muito saudável.
Perto da hora de retornarmos para o almoço, começou um vento um pouco chato. O Rio Paraná tem um volume de água muito grande, então qualquer ventinho já faz ondas consideráveis. Percebemos que a pescaria de rodada na parte da tarde não ia sair boa. Por falar nela novamente, vou aproveitar e explicar, para aqueles que não sabem, como ela funciona lá na região.
O passo a passo é: arremesso não muito longo, encastoamento comprido no anzol para passar intacto pelas pedras, soltar a linha até que encoste no fundo e deixar o barco seguir na correnteza. Porém, a carretilha deve permanecer aberta, com a cigarra (alarme da fricção) ligada. Dessa forma é mais difícil da isca enroscar nas pedras e mais fácil distinguir a batida do peixe, de quando o anzol só estiver passando por algum obstáculo no fundo.
Após o almoço nós também, como no dia anterior, optamos por subir o rio. O ponto de pesca é mais próximo, e o tempo de pescaria da parte da tarde é mais curto. O vento tinha apertado um pouco mais, e depois de três rodadas vimos que não estava funcionando bem.
Resolvemos então apoitar, não encostados no barranco, na Argentina não se faz essa pescaria. Apoitamos de forma que arremessássemos o mais próximo possível do canal do rio.
Passado algum tempo, eu estava um pouco distraída, confesso ... não sou daquelas pescadoras que ficam fissuradas olhando a vara o tempo todo. Eu canto, observo o céu, tomo uma cervejinha ... e é bem aí que o peixe vem. Dessa vez não foi diferente. Que pegada incrível !!! Um show de fêmea, que me rendeu uma briga linda !!! Grande, gorda, reluzia de tão bonita sua coloração.
Saíram mais alguns dourados, menores e armaus ... só para nos lembrar de que quem manda na pescaria são os peixes !!!
Ao final do segundo dia, e já depois de alguns dourados, combinei com o guia e com os meus avós que íamos tentar um surubi no último dia.
Aquele mesmo dilema de antes, vocês lembram? Os surubis saem melhor no corrico. Apesar de eu não gostar dessa pescaria, eu ainda quero muito um bocudão argentino eeee além disso o vento só piorava, o tempo mudando ... no último dia não ia dar para pescar rodando.
Tem uma frase que diz: “ Deus desconta da vida o tempo que o homem passa pescando”. Eu não sei o autor, mas sei que a chance de ser verdade é grande. Nunca vi o tempo passar tão rápido como quando estamos pescando, não é mesmo? Parecia que tínhamos acabado de chegar e já era o nosso último dia.
Como previsto, o tempo realmente deu uma mudada. Amanheceu um pouco nublado e ventando bastante. Mesmo um pouco relutante, falei para o Telmo: “ já que o tempo não esta ajudando, vamos tentar dar uma corricadinha... vai que a sorte está comigo ne!”
E lá fomos, corricamos uns 40 minutos, até a primeira ação. Vocês nem acreditam no que foi o desfecho, um pacu guerreiro, abocanhou minha cucu no corrico. Simmmm, fisguei um pacu pela boca no corrico !!!
Depois dessa, fomos pescar piapara. Nosso tempo estava curto e eu ainda não tinha ido fazer a pescaria delas. Com vento é o ideal, já que para pesca-las por lá é preciso apoitar.
O ponto escolhido foi uma água corrente, com um crespinho, na ponta de uma pedreira. A isca é milho cozido, dois grãos por anzol e o anzol indicado é o maruseigo nº 12 ou 14, com giradores compatíveis e chumbos leves (20-30g).
Isca certa, material certo e ponto bom. O resultado não podia ser diferente. Saíram várias delas e a pescaria foi bem divertida.
Nossa última tarde de pesca se aproximava, o vento melhorava e então resolvemos tentar os dourados após o almoço. Quem sabe depois da água se agitar um pouco, eles não estariam ainda mais vorazes né?!
Tarde linda, o rio mais calmo e eu seguia esperançosa na busca de mais peixes, como se diz: pescador não pode perder a fé.
Peguei mais dois lindões e encerrei mais uma pescaria muito feliz, em um lugar que com certeza quero retornar.
Pescar na Argentina é uma delícia e na minha opinião, especialmente no verão. Os dias são lindos, um espetáculo do Sol todas as tardes e o Paranazão ainda mais encantador. Os dourados tomam conta do cenário, mas ainda deixam espaço para os grandões bigodudos e, se os braços cansarem muito, tem as briguentas das piaparas. Que só perdem mesmo no tamanho, porque tem uma braveza só delas!
Cada pescaria deixa uma mensagem, e a dessa foi bem especial. Tive o privilégio de pescar em um lugar incrível, que queria conhecer há tempos, e com os meus avós.
Mas além disso, me fez ter ainda mais certeza de uma coisa: não importa se você está no melhor lugar de pesca do mundo, usando a melhor tralha e com grandes chances de bater seus recordes várias vezes na mesma pescaria. Ou se está só pescando lambari, em um lago qualquer.
O que importa é: não esquecer que pescaria é, antes de ser um esporte, uma arte!!! Uma arte precisa ser feita com o coração. Porque só assim, entendendo a verdadeira essência de pescar, da conexão com a natureza, da troca com ela ... que se aprende de verdade a pescaria. E se vive a felicidade de ser um pescador!
Breve roteiro para chegar a Ita Ibaté de carro: - seguir até Foz do Iguaçu, - após cruzar a fronteira entre os países Argentina e Brasil, pegar a Ruta 12, e seguir nela. Não sair da Ruta 12!!
Exigências necessárias para cruzar a fronteira: - documentos de identificação (RG com no mínimo 10 anos ou passaporte), - seguro Carta Verde, - carteira de habilitação do motorista e – documentos originais do veículo (caso esteja em nome de empresa, necessária apresentação do contrato social).
Portar no veículo: - um kit de primeiros socorros, dois triângulos, um cambão e extintor de incêndio.
Maria Beatriz Cordeiro (Didi)